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segunda-feira, 31 de março de 2014

31 de março de 1964 – o primeiro dia de 21 anos de terror.


Os anos 60 ficaram marcados pela concentração das massas rurais em busca de terras. As Ligas Campesinas no nordeste e os movimentos sociais espalhados por todo o Brasil, chamaram a atenção de setores burgueses do país e do governo americano.

Desde sempre, os EUA acreditam que os países do continente americano são seu quintal. Eles sempre se viram como verdadeiros donos de todo o território das Américas. 

Tinham perdido Cuba para o comunismo e não aceitariam que o Brasil, o país com maior território da região, seguisse o mesmo caminho da ilha de Fidel Castro. 

Ações governamentais, de políticos como Brizola e João Goulart, de distribuição de terras aos camponeses, com o intuito de desenvolver economicamente o país e melhorar a vida no campo dos pobres que buscavam terras para plantar, foram vistas como uma ameaça por parte da elite brasileira, da igreja católica brasileira, da imprensa brasileira, de políticos brasileiros e do governo americano. 

A direita brasileira sempre se sentiu incomodada com a ascensão dos mais pobres.

A reforma agrária, colocada em prática por Brizola e Jango, levaria o Brasil a ser um país "comunista", segundo parecer dos inimigos internos do Brasil e do embaixador americano, da época, no Brasil.

"O Brasil ser um país comunista", era a senha que faltava para tirar Jango do poder. Para os americanos, caso o Brasil se transformasse num país comunista, o mundo não ganharia outra Cuba e sim uma nova China.

A partir daí, o governo americano, através da CIA e dos parceiros brasileiros, implantou nos grandes centros sociais do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife...), o que se chamou de “condições para o golpe”.

Agentes da CIA foram enviados para avaliar a situação e, infiltrados na sociedade, divulgavam ideias anticomunistas e antigoverno Goulart. A ideia era utilizar todos os meios possíveis de alienação do povo.

O governo americano passou a enviar dinheiro, muito dinheiro, para os opositores de Goulart. Para enfraquecer o governo brasileiro. 

O IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais)  foi um dos instrumentos criados para desestabilizar o governo, alimentando e propagando o caos na sociedade. O “ovo da serpente” do golpe, o IPES, alienava o povo com matérias, filmes, reportagens sobre o “mal” que o governo brasileiro estava fazendo a seu povo. Tudo bancado pelo governo americano.

As nações americanas, não podem, não devem e não irão permitir o estabelecimento de outro governo comunista no hemisfério ocidental” – presidente americano Lyndon Johnson.

Se de um lado o governo americano desconfiava dos projetos “comunistas” implantados no Brasil, como o da reforma agrária, o governo de Goulart continuava a defender o Brasil e seu povo, que tinha o direito de desenvolver o país a partir do campo. 

Sendo assim, o governo dos EUA e os inimigos internos do Brasil passaram a adotar medidas ainda mais duras contra Goulart. Ações secretas foram postas em prática com passeatas contra o governo “comunista” de Goulart, com apoio de setores do Congresso, da Imprensa, do Exército e da Igreja Católica. Era o povo, servindo aos inimigos do Brasil, como massa de manobra.

A Marcha da Família com "Deus" foi um evento que teve a participação do povo contra o próprio povo.

Devemos tomar todas as medidas possíveis, estar prontos para agir. Vamos ficar em cima de Goulart e nos expor se for preciso. Nós não podemos engolir esse cara.” – presidente americano Lyndon Johnson.

Os fundamentos para o golpe estavam prontos. O governo americano enviou para o litoral brasileiro o que eles tinham de mais avançado na área militar, na época. Os governos de São Paulo e Minas Gerais, apoiadores do golpe e recebedores de quantias volumosas de Washington,  para usarem contra o governo democrático de Jango, deram o aval. E já havia o general [Castelo Branco] que assumiria o poder.

Mesmo tendo o apoio de grande parte da população, ter ao seu lado um contingente militar considerável e ainda a Constituição resguardando a legitimidade da democracia no Brasil, no dia 31 de março, já na madrugada do dia primeiro de abril de 1964, o Presidente João Goulart, tomou a decisão de não querer derramamento de sangue e foi derrubado da presidência sem lutar. 

Estava instalado o Golpe.

Talvez de todas suas ações políticas, até então, sair sem lutar tenha sido a maior delas. Quantos morreriam se os canhões dos navios americanos, ancorados no litoral brasileiro, disparassem contra os grandes centros populacionais do país? E quão grande seria o prejuízo se ocorresse o combate entre os militares do golpe e aqueles que defendiam o Goulart, o povo e a democracia?

A partir daquele dia, o Brasil viveria os mais sangrentos vinte e um anos de sua história. A alegria, que muitos sentiam com o golpe, chegando a festejar nas ruas a queda de Goulart, em pouco tempo se transformou em lágrimas.

O governo americano não conseguiu sozinho estabelecer o terror em nosso país. Setores da imprensa, da igreja, da burguesia, da política brasileira, tiveram papel fundamental nesse processo. Os vinte e um anos de terror que esse país viveu, também foram de responsabilidade desses setores.

Essa história precisa ser contada às futuras gerações. Ela faz parte de nossas vidas. Precisamos, a todo instante, estarmos atentos e nos perguntar: será que não estamos (nós(!), a sociedade) sendo usados novamente, por essas mesmas forças internas e externas, nos dias de hoje?


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