O Brasil sofre com a falta de médicos. Ainda que alguns
oportunistas digam o contrário, há carência de profissionais da saúde nas
periferias dos grandes centros urbanos e nos rincões espalhados pelo país. Os
que falam o contrário disso, certamente, nunca precisaram do SUS. São pessoas
que não conhecem a realidade verdadeira do povo brasileiro. Só quem sabe é quem
está vivendo essa realidade. Se procurarmos respostas nos lugares certos,
veremos que não é apenas a falta de médicos que tem afligido a população. Entre
os profissionais que atendem pelo SUS, alguns, na verdade, deveriam ser
demitidos pelo mau serviço prestado.
A formação médica nesse país sempre foi uma área restrita à classe rica. A maioria dos médicos, até pouco tempo, era proveniente das classes A e B.
Isso transformou a profissão numa das mais elitistas do mundo. A altivez dos “quase
deuses” passou a ser o traço significativo da maioria dos profissionais da
área. A própria história nos mostra o quanto a profissão se enraizou entre os
afortunados. Se formos encontrar respostas no passado, veremos que a primeira
escola criada em solo brasileiro foi justamente a Escola de Medicina, no Rio
de Janeiro. Entre o fim do século XVII e o início do XVIII, quando os filhos da burguesia, impedidos de viajar até a Europa para fazer medicina, devido aos ataques da
tropa de Napoleão Bonaparte, tiveram que se contentar em estudar aqui mesmo, em
terras tupiniquins. A construção da escola de medicina se deu exclusivamente
por/para esse fim.
Na verdade, médicos brasileiros não gostam de tratar pobre.
Embora existam exceções, quando isso acontece, na maioria das vezes, vem como um “sacerdócio” ou uma
ajuda humanitária, ou ainda, um emprego temporário. O negócio do médico brasileiro não é estar em postos de saúde
da periferia, tratando de moradores de favelas ou de morros. Moradores de rua? Nem pensar!
A ideia que temos do médico comprometido em salvar vidas,
ainda que esteja enfrentando adversidades, não faz mais parte do imaginário
popular. O descaso com a saúde tem como principal entrave o perfil do
paciente. Atendimentos a pobres, negros e desempregados ocorrem geralmente com
muitas dificuldades.
A falta de medicamentos, leitos e hospitais não é mais
importante que a falta do principal personagem dessa emblemática discussão que
tem tomado os noticiários nas últimas semanas. O médico é fundamental nesse
processo. Ele é essencial, ainda que falte tudo! De que adiantaria um hospital super equipado, sem médicos?
É justamente para suprir essa demanda, onde se encaixa a
adoção das Cotas Universitárias, que forneceu condições para que os filhos da
classe pobre pudessem ingressar também
nos cursos de medicina. Em mais alguns anos, o Brasil receberá uma leva de
profissionais de medicina oriundos de favelas e morros.
Até lá, o governo
disporá de mecanismos e condições para receber esses profissionais, que,
diga-se de passagem, a iniciativa privada não vai querer contratar. Com isso, não estou
pondo em dúvida a formação médica e a capacidade de execução da função dos
negros e pobres formandos em medicina, chamo a atenção, na verdade, para uma prática que acontece no Brasil, desde
seu descobrimento, onde valor só tem quem é burguês.
A formação desses novos profissionais dará uma cara nova no
atendimento médico, principalmente no atendimento médico para os mais pobres. Os médicos vindos das classes pobres sabem a realidade do povo da periferia por eles próprios terem sido de lá. Com
as Cotas, o governo além de socializar as Universidades, colocando os
filhos do gari, do motorista de táxi, da empregada doméstica, na mesma sala de
aula do filho do empresário, conseguiu preparar o mercado com o "Mais Médicos" para receber,
em breve, os profissionais de saúde (negros e pobres) que estarão concluindo o
curso de medicina, nos próximos anos.
A questão é: a elite vai deixar isso acontecer?
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