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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Que falta faz um xodó.


Marizete é moça solteira. Está com seus 50 anos vividos em Caruaru – PE, e nunca conheceu homem algum. Digo! As intimidades naturais entre um casal de namorado, noivo, marido. Essas coisas, num sabe!

Por não ter tido adolescência, foi impedida de ser uma jovem normal e fazer as coisas que geralmente os jovens fazem: primeiro beijo, primeiro encontro, desencontros, frustrações e descobertas. Por isso Marizete cresceu meio “abestalhada”, bobona ria e sentia vergonha de tudo.

Os pais de Marizete sempre foram muito rígidos. A criaram na base das rédeas curtas. De casa para igreja, da  igreja para escola, da escola pra casa.

Filha do Sr. Juvenal Gregório não frequentava Pátio de Forró, o Baile da Praça ou a casa de show conhecida como Forrozão? Mas, de jeito nenhum!

Ir ao Alto do Moura, em época de festas? Nem pensar! Marizete era moça pra frequentar apenas, as festas da igreja da matriz, ir as quermesse da igreja do Padre Guilherme, no Salgado. Ou na igreja do Rosário.

Esse negócio de querer almoçar com amigos no Bar da Linguiça, da Charque, da Codorna... Não tinha permissão, não! 

Pelo o Amaros'bar, ali por trás do Banco do Brasil, ela não passava nem pela frente, quanto mais entrar.

Durante muitos anos, Marizete rezou a Santo Antônio na igreja da matriz, pedindo um casório. Achava que era a única forma de sentir o gostinho da liberdade. Mas, o santo parecia muito ocupado que nunca seu pedido foi atendido. Com o passar dos anos se conformou que não nasceu pra casar. Decidiu se desviar desse desejo. Afinal, “eu nem beijar sei”, pensava ela.

Encorajada, há muito tempo, por ter achado seu destino, Marizete passou a se dedicar a outros gostos e projetos de sua vida.

Um deles, talvez o que lhe rendia mais prazer, foi quando o “inesperado” aconteceu. Marizete passou a frequentar um curso de férias de  pintura artística, no colégio Sagrado Coração. 

Todas as terças e quintas, ela descia do ônibus no terminal da estação de trem, caminhava pela Rua da Caixa Econômica e na Avenida 15 de Novembro, dobrava à direita, sentido o colégio Sagrado Coração.

Naquela quinta-feira, ao olhar para o outro lado da Avenida, um homem dentro de uma loja a olhava fixamente. Ela, mais que depressa, apressou os passos para sair daquela situação inquietante e causadora de furor e calor.

Na aula de pintura, ela não pensava em outra coisa. O professor falava em perspectivas, enquadramento de figuras, pintura em óleo, paisagem e retrato, mas, Marizete só tinha no pensamento a imagem daquele homem na loja. "Como ele era lindo".

Quando terminou a aula, como sempre fazia,  ela fez o mesmo percurso no retorno para pegar seu ônibus em frente a estação do trem. Mas, infelizmente, já passava das 18:00 horas e a loja estava fechada.

Marizete chegou em casa com um brilho diferente no olhar. Foram cinco dias de angustias e de esperança de poder ver novamente, na próxima terça-feira, aquele “maravilhoso” homem. 

Daquela quinta até a terça-feira, o tempo castigou Marizete mais que demais. “Será que ele vai está lá”, essa era a grande dúvida dela.

Enfim a terça-feira chegou! Quando Marizete dobrou  na Avenida 15 de Novembro, de olhos fitados na loja do outro lado da Avenida, lá estava ele novamente. Mais asseado, vestido numa camisa linda. E assim como na quinta passada, ele a olhava fixamente.

Dessa vez, Marizete não se apressou. Pelo contrário! Até diminuiu os passos e sorriu pra ele. Chegou à aula com uma sensação de ter chegado voando. Um largo sorriso no rosto, um coração pulsando meio descompassado e um experimento jamais sentido. 

Ela já tinha sentido um pouco daquilo, mas nunca tinha sido correspondida. Pelo que parecia, agora era diferente.

Na quarta-feira, Marizete tratou de cortar o cabelo, comprou uma roupa nova na lojinha do bairro onde mora, fez as unhas, se emperiquitou toda. Queria está bem apresentada na quinta-feira.

Muito tímida e sem experiência com o sexo oposto, Marizete resolveu contar seu segredo a Maria das Dores, uma amiga de longas datas.

Das Dores, após ouvir sobre o homem da loja e sabendo da dificuldade que Marizete tinha em iniciar um  namoro, decidiu acompanhar a amiga no dia seguinte e ajudar no que fosse preciso.

Após uma manhã inteira de preparação e ansiedade, lá vem as duas, Marizete e Das Dores, descendo a Rua da Caixa Econômica e dobrando à direita da 15 de Novembro

Lá está ele. Disse Marizete a Das Dores.
Onde? Quis saber Maria.
Aquele em pé, dentro da loja, de camisa vermelha e calça social.

Das Dores olhou fixamente o tal pretendente de Marizete, e pra surpresa dela, trava-se do manequim que ficava exposto na vitrine da loja.

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