Ontem acompanhei um julgamento no Fórum de Joana Bezerra, em Recife. Fui acompanhar um amigo advogado na sua árdua tarefa de defesa. Três acusados estavam respondendo pelo crime de Tentativa de Homicídio e cada um deles estava sendo acompanhado por seu advogado.
Nunca tinha assistido a um julgamento ao vivo, embora seja admirador dos filmes que retratam júri, réu, condenação, absolvição e tudo relacionado ao meio jurídico.
Desde que adentrei aquele recinto, logo percebi que a realidade era muito distante da ficção. E a impressão que tive, de imediato, ainda mais por estar ciente do caso relatado pelo meu amigo advogado, foi de estar participando de um jogo de cartas marcadas. Onde os réus tinham a mínima chance de saírem daquela situação dada as circunstâncias.
A sociedade brasileira é muito preconceituosa com aqueles que se encontram à margem. Não há lugar melhor para se perceber isso do que em um julgamento. Corte que julga pobre e negro é muito diferente da que julga brancos e ricos. Pobre envolvido com drogas é considerado o lixo da sociedade. Enquanto rico, é apenas um “incompreendido” que precisa de ajuda de todos. Vejam o exemplo de Casagrande (comentarista da Globo) e Fábio Assunção (ator da Globo).
Aquele julgamento parecia estar sendo realizado, apenas, como formalidades jurídicas. O resultado era claro e certo.
Me chamou atenção a situação de um dos réus, acusado de mandante da tentativa de homicídio, ele foi durante algum tempo alvo da mídia. Ela ganhou audiência ao mostrá-lo como "perigoso". Todos nós conhecemos a mídia e sabemos o quanto ela gosta de criar heróis e bandidos.
Naquela situação, o acusado de mandar matar a vítima era, entre os três, aquele que menos tinha perspectiva de ser absolvido. Por mais provas que levassem à sua inocência, o tribunal do júri o condenaria pelo seu “sucesso” na mídia como homem perigoso.
Hoje, no Brasil, é muito difícil julgar um crime sem levar em consideração outros crimes cometidos pelos réus. O que, na verdade, deveria acontecer era cada crime julgado não ser influenciado por nenhum outro. Mas, não é bem assim que pensa a cabeça do tribunal do júri
Vi o excelente trabalho dos advogados de defesa que derrubaram muitas das provas apresentadas pelo promotor de justiça, todas elas (as provas) baseadas no depoimento da vítima.
Não vi a vítima. Ela não compareceu ao julgamento. Está presa no Aníbal Bruno. Responde por vários crimes, entre eles: tráfico de drogas e homicídios. O último crime, pelos comentários extrajudiciais, foi de assassinar um policial militar. Foi justamente esse indivíduo que não pode comparecer ao julgamento para apontar seus algozes, por temer a própria vida, segundo o promotor.
Pode, um negócio desses?
Enfim, chegou o final! O resultado por mim esperado foi concretizado. A justiça brasileira se baseia exclusivamente na condenação. Não há meio-termo ou análise de precedentes, ou atenuantes. A justiça brasileira só enxerga as prerrogativas que levam os réus para o cárcere. Só isso é o que verdadeiramente importa.
E chega a pior parte do julgamento: sentenciados há 15 anos e mais os custos do julgamento.
A defesa, mesmo tendo sido prejudicada pela ausência da vítima, teve seus clientes condenados. E pasmem! O tribunal do júri aceitou o pedido do promotor de crime de quadrilha. Três réus, condenados pelo crime de quadrilha.
Qual a conclusão que tirei desse fato: primeiro, que o peso das togas está levando homens a julgar réus pela aparência, pelo que a mídia tem a dizer sobre o réu ou pela classe social dele. E segundo, quanto o tribunal do júri é influenciado mais pelos argumentos do promotor do que pelos advogados de defesa.
Para o tribunal do júri, é apenas mais um julgamento. Não importa aqueles que estão sentados no banco dos réus. Afinal, faz parte do ser humano puxar os outros para baixo?
Lastimável!













