Os anos 60 ficaram marcados pela concentração das massas rurais
em busca de terras. As Ligas Campesinas no nordeste e os movimentos sociais
espalhados por todo o Brasil, chamaram a atenção de setores burgueses do
país e do governo americano.
Desde sempre, os EUA acreditam que os países do continente americano são seu quintal. Eles sempre se viram como verdadeiros donos de todo o
território das Américas.
Tinham perdido Cuba para o comunismo e não aceitariam que o
Brasil, o país com maior território da região, seguisse o mesmo caminho da ilha
de Fidel Castro.
Ações governamentais, de políticos como Brizola e João
Goulart, de distribuição de terras aos camponeses, com o intuito de desenvolver
economicamente o país e melhorar a vida no campo dos pobres que buscavam terras para plantar, foram vistas como uma ameaça por parte da elite brasileira, da
igreja católica brasileira, da imprensa brasileira, de políticos brasileiros e do governo americano.
A direita brasileira sempre se sentiu incomodada com a ascensão dos mais pobres.
A reforma agrária, colocada em prática por Brizola e Jango,
levaria o Brasil a ser um país "comunista", segundo parecer dos inimigos internos do Brasil e do embaixador
americano, da época, no Brasil.
"O Brasil ser um país comunista", era a senha que faltava para tirar Jango do
poder. Para os americanos, caso o Brasil se transformasse num país comunista, o
mundo não ganharia outra Cuba e sim uma nova China.
A partir daí, o governo americano, através da CIA e dos parceiros brasileiros, implantou
nos grandes centros sociais do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife...), o
que se chamou de “condições para o golpe”.
Agentes da CIA foram enviados para avaliar a situação e, infiltrados na sociedade, divulgavam ideias anticomunistas e antigoverno Goulart. A ideia era utilizar todos os meios possíveis de alienação do povo.
O governo americano passou a enviar dinheiro, muito
dinheiro, para os opositores de Goulart. Para enfraquecer o governo brasileiro.
O IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) foi um dos instrumentos criados para
desestabilizar o governo, alimentando e propagando o caos na sociedade. O “ovo
da serpente” do golpe, o IPES, alienava o povo com matérias, filmes, reportagens
sobre o “mal” que o governo brasileiro estava fazendo a seu povo. Tudo bancado
pelo governo americano.
“As nações americanas, não podem, não devem e não irão
permitir o estabelecimento de outro governo comunista no hemisfério ocidental” –
presidente americano Lyndon Johnson.
Se de um lado o governo americano desconfiava dos projetos “comunistas”
implantados no Brasil, como o da reforma agrária, o governo de Goulart continuava a defender o Brasil e seu
povo, que tinha o direito de desenvolver o país a partir do campo.
Sendo assim, o governo dos EUA e os inimigos internos do Brasil passaram a adotar medidas ainda mais duras contra Goulart.
Ações secretas foram postas em prática com passeatas contra o governo “comunista”
de Goulart, com apoio de setores do Congresso, da Imprensa, do Exército e da Igreja
Católica. Era o povo, servindo aos inimigos do Brasil, como massa de manobra.
A Marcha da Família com "Deus" foi um evento que teve a
participação do povo contra o próprio povo.
“Devemos tomar todas as medidas possíveis, estar prontos
para agir. Vamos ficar em cima de Goulart e nos expor se for preciso. Nós não
podemos engolir esse cara.” – presidente americano Lyndon Johnson.
Os fundamentos para o golpe estavam prontos. O governo
americano enviou para o litoral brasileiro o que eles tinham de mais avançado
na área militar, na época. Os governos de São Paulo e Minas Gerais, apoiadores do
golpe e recebedores de quantias volumosas de Washington, para usarem contra o governo democrático de
Jango, deram o aval. E já havia o general [Castelo Branco] que assumiria o
poder.
Mesmo tendo o apoio de grande parte da população, ter ao seu
lado um contingente militar considerável e ainda a Constituição resguardando a legitimidade
da democracia no Brasil, no dia 31 de março, já na madrugada do dia primeiro de
abril de 1964, o Presidente João Goulart, tomou a decisão de não querer
derramamento de sangue e foi derrubado da presidência sem lutar.
Estava instalado o Golpe.
Talvez de todas suas ações políticas, até então, sair sem lutar tenha sido
a maior delas. Quantos morreriam se os canhões dos navios americanos, ancorados no litoral brasileiro, disparassem contra os grandes centros populacionais do país? E quão grande seria o prejuízo se ocorresse o combate entre os militares do golpe e aqueles que defendiam o Goulart, o povo e a democracia?
A partir daquele dia, o Brasil viveria os mais sangrentos
vinte e um anos de sua história. A alegria, que muitos sentiam com o golpe,
chegando a festejar nas ruas a queda de Goulart, em pouco tempo se transformou
em lágrimas.
O governo americano não conseguiu sozinho estabelecer o
terror em nosso país. Setores da imprensa, da igreja, da burguesia, da política
brasileira, tiveram papel fundamental nesse processo. Os vinte e um anos de
terror que esse país viveu, também foram de responsabilidade desses setores.
Essa história precisa ser contada às futuras gerações. Ela
faz parte de nossas vidas. Precisamos, a todo instante, estarmos atentos e nos
perguntar: será que não estamos (nós(!), a sociedade) sendo usados novamente, por
essas mesmas forças internas e externas, nos dias de hoje?