O ministro Joaquim Barbosa parece que está em colisão com imprensa tradicional. O ano passado houve casos de descontentamento entre ele e alguns repórteres da Grande Imprensa. O presidente do STF até mandou um deles chafurdar na lama. Uma expressão terrível, vinda de um ministro do Supremo. Mais terrível ainda porque não haveria lama sucifiente para tantos jornalistas.
Outra situação de conflito,
entre o queridinho da imprensa, veio com a notícia do processo contra o
colunista global, Ricardo Noblat. Se foi espanto pra muita gente ler o Noblat
criticar o “Batman”, vê-lo processado pelo ministro causou surpresa.
A relação entre homens públicos
e setores da imprensa brasileira é absurda no Brasil. Colunistas amigos de
ministros, políticos amigos de colunistas, bicheiro amigo de senador. Banqueiro
amigo de ministro, de políticos e de colunistas. Senador amigo de Caneta...
No caso do ministro Joaquim
Barbosa, no julgamento do mensalão petista, ficou claro para a sociedade, uma
aproximidade da imprensa conservadora com o ministro. Havia sempre editoriais
generosos sobre a “extraordinária” condução do processo pelo Senhor Presidente
do Superior Tribunal Federal.
A imprensa é sempre muito
generosa quando está em jogo a defesa de suas prerrogativas. Era comum o
sorrisinho maroto do Bonner, ao apresentar reportagens sobre o Barbosa no JN. A
capa da Veja sempre estava a disposição para enaltecer o “Homem que mudou o
Brasil”. Os colunistas desses setores da imprensa se revezavam em apontar as
qualidades do ministro. Tudo com muita superficialidade.
Parece que aquela relação,
claramente exposta entre Barbosa e a imprensa, acabou. Ou pelo menos está perto
do fim. Surpreendente constatar que
justamente no momento em que Mensalão Petista acabou e nas vésperas do Mensalão
Tucano começar.
Parece até coincidência... Mas, não existe coincidência na imprensa.
Enfim, hoje surgiu a publicação de uma carta que o Barbosa
enviou à revista época, criticando o modo sujo como a globo faz jornalismo.
Sobre a carta duas coisas precisam serem ditas: primeiro sobre a demora que levou um homem experiênte como Barbosa a descobrir as facetas dessa imprensa criminosa. E segundo, causa-nos um verdadeiro bálsamo seu conteúdo.
Confira a carta na íntegra:Sr. Diretor de Redação,
A matéria "Não serei candidato a presidente" divulgada na edição nº 823 dessa revista traz em si um grave desvio da ética jornalística. Refiro-me a artifícios e subterfúgios utilizados pelo repórter, que solicitou à Secretaria de Comunicação Social do Supremo Tribunal Federal para ser recebido por mim apenas para cumprimentos e apresentação. Recebi-o por pouco mais de dez minutos e com ele não conversei nada além de trivialidades, já que o objetivoestabelecido, de comum acordo, não era a concessão de uma entrevista. Era uma visita de cunho institucional do Diretor da Sucursal de Brasília da Revista Época. Fora o condenável método de abordagem, o texto é repleto de erros factuais, construções imaginárias e preconceituosas, além de sérias acusações contra a minha pessoa.
A matéria é quase toda construída em torno de um crasso erro factual. O texto afirma que conheci o ministro Celso de Mello na década de 90, e que este último teria escrito o prefácio do meu livro "Ação Afirmativa e princípio Constitucional da Igualdade". Conheci o ministro Celso de Mello em 2003, ano em que ingressei no STF. Não é dele o prefácio da obra que publiquei em 2001, mas sim do já falecido professor de direito internacional Celso Duvivier de Albuquerque Melo,que de fato conheci nos anos 90 e foi meu colega no Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Mais grave, porém, é a acusação de que teria manipulado uma votação,impedindo deliberadamente que um ministro do STF se manifestasse. O objetivo seria submeter o ministro a pressões da "mídia" e de "populares". Isso não é verdade. Ofensiva para qualquer cidadão, a afirmação ganha contornos ainda mais graves quando associada ao Chefe do Poder Judiciário. Portanto, antes de publicar informação dessa natureza, o repórter tinha a obrigação de tentar ouvir-me sobre o assunto, o que pouparia a revista de publicar informação incorreta sobre minha atuação à frente da Corte.
No campo pessoal, as inverdades narradas na matéria são ainda mais ofensivas e revelam total desconhecimento sobre a minha biografia. Minha mãe nunca foi faxineira. Ela sempre trabalhou no lar, tendo se dedicado especialmente ao cuidado e à educação dos filhos. O texto,que me classifica como taciturno, áspero, grosseiro, não apresenta fundamentos para essas afirmações que, além de deselegantes, refletem apenas a visão distorcida e preconceituosa do repórter. O autor da matéria não apresenta elementos que sustentem os adjetivos gratuitos que utiliza.
Também desrespeitosa é a menção aos meus problemas de saúde. Ao afirmar que a dor causou "angústia e raiva", o jornalista traçou um perfil psicológico sem apresentar os elementos que lhe permitiram avaliar o impacto de um problema de saúde em uma pessoa com a qual ele nunca havia sequer conversado.
Outra falha do texto é a referência à teoria do "domínio do fato". Em nenhum momento a teoria foi evocada por mim para justificar a condenação dos réus no julgamento da Ação Penal 470. Basta uma rápida leitura do meu voto para verificar esse fato.
Finalmente, não tenho definição com relação ao momento de minha saída do Supremo e de minha aposentadoria. Muito menos está definido o que farei depois dessa data, embora a matéria tenha afirmado - sem que o jornalista tenha sequer tentado entrevistar-me sobre o tema - que irei dedicar-me ao combate ao racismo. Triste exemplo de jornalismo especulativo e de má-fé.
Joaquim Barbosa
Presidente do Supremo Tribunal Federal
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