Existem profissionais que dignificam a profissão que escolheram para sua vida. É fácil identificar, no cenário nacional, nomes que exemplificam muito bem isso.
Temos o Ariano Suassuna e Luiz Fernando Veríssimo, grandes representantes da literatura. Na música, o Chico Buarque, o Gonzagão, Elis Regina, entre outros "monstros". Nos esportes, o Ayrton Sena, Sócrates, Garrincha... Nas artes, o Chico Anysio, o mestre dos disfarces. E no jornalismo, um nome que é respeitado por muitos e merecedor de admiração e prestígio é o Jornalista Alberto Dines.
Profissional que vale a pena compartilhar a sua arte.
Fazer jornalismo não é para todo mundo, não! Tem muita gente fazendo qualquer outra coisa no Brasil, acreditando que está fazendo jornalismo.
Que os novos e velhos profissionais da imprensa brasileira possam se espelhar nesse grande brasileiro. Para o bem da nossa imprensa.
"Se todos fossem iguais a você..."
Segue a reprodução do seu último texto. Se deleitem.
LEITURAS DE ‘VEJA’ - Novo surto de vale-tudo.
Por Alberto Dines em 18/03/2014 na edição 790 - site Observatório da Notícia.
Na tarde de 12 de abril de 2011, em aula da primeira edição do Curso de
Pós-Graduação em Jornalismo, da ESPM-SP, Eurípedes Alcântara, diretor
de Redação da Veja, na condição de professor-convidado,
declarou, para espanto dos 35 alunos presentes: “Tratamos o governo Lula
como um governo de exceção”. Na capa da última edição do semanário (nº
2365, de 19/3/2014), o jornalista ofereceu trepidante exemplo da sua
doutrina.
Para comprovar a ilegalidade das regalias de que gozaria o ex-ministro José Dirceu no Complexo da Papuda, Veja
cometeu ilegalidade ainda maior. Detentos não podem ser fotografados ou
constrangidos, o ato configura abuso de poder, invasão da privacidade
e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética jornalística. Um
bom advogado poderia até incriminar os responsáveis por formação de
quadrilha ao confirmar-se que o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel)
não entrou na penitenciária e alguém pagou uma boa grana aos
funcionários pelas fotos e as, digamos, “informações”.
“Exclusivo – José Dirceu, a Vida na Cadeia” não é reportagem, é pura cascata:
altas doses de rancor combinadas a igual quantidade de velhacaria em
oito páginas artificialmente esticadas e marombadas. As duas únicas
fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas certamente com
microcâmera, não comprovam regalia alguma.
Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes olheiras, cabelo aparado, de
branco como exige o regulamento carcerário, não parece um privilegiado.
Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald’s supostamente
servidos ao detento foram reais, Dirceu estaria reluzente, redondo,
corado. Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do
presídio, não há crime algum.
Agentes provocadores.
A grande imprensa desta vez não deu cobertura ao semanário como era habitual. Constrangido, o Estado de S.Paulo
foi na direção contrária e, já no domingo (16/3), relatava, com chamada
na primeira página, as providências das autoridades brasilienses para
descobrir os cúmplices do vazamento (ver “Dirceu teria mais regalias na cadeia; DF nega“). Na segunda-feira, na Folha de S.Paulo, Ricardo Melo lavou a alma dos jornalistas que repudiam este jornalismo marrom-escuro (ver “O linchamento de José Dirceu”).
O objetivo da cascata não era linchar Dirceu, o que se
pretendia era acirrar os ânimos, insuflar indignações contra uma suposta
impunidade, alimentar a agenda dos black-blocks (ou green-blocks?).
Os agitadores e agentes provocadores estão excitadíssimos às vésperas
dos 50 anos do golpe militar. O violento quebra-quebra na sexta-feira
(14/3), na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo
(Ceagesp) – o maior do gênero na América Latina – não foi provocado
pelos caminhoneiros que passariam a pagar pelo estacionamento. Foi obra
de profissionais do ramo da agitação política com a inestimável ajuda da
PM, que demorou três horas para chegar ao campo de batalha.
As convocações para atos e passeatas destinadas a homenagear o golpe de
1964 não falam na derrubada de Jango, falam em derrotar o PT. Convém
lembrar que a rede Ceagesp é, desde 1997, federalizada, ligada ao
Ministério da Agricultura.
Num governo de exceção, vale tudo. Também no jornalismo de exceção.
***
Depois de três edições e três turmas de valentes profissionais, o Curso
de Pós-Graduação em Jornalismo com Ênfase em Direção Editorial,
parceria da Editora Abril com a ESPM, foi suspenso. Na véspera do
primeiro aniversário da morte de Roberto Civita, está desativada uma de
suas mais lindas façanhas no campo da formação profissional. Não
merecia.
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