O jogador
Tinga, do Cruzeiro, foi hostilizado por torcedores peruanos
na semana passada. Todas às vezes que o jogador pegava na bola, os torcedores
adversários (homens, mulheres, crianças), imitavam o som de macacos.
Uma senhora
da elite brasileira se sentiu ofendida ao ver, no aeroporto onde iria pegar o
avião, um homem de bermudas e camiseta regatas. Tirou uma foto daquela “terrível
cena de pobreza explícita” e postou na sua página social com a seguinte frase: o aeroporto agora virou rodoviária?
Uma turista
austríaca se negou a ter que fazer as unhas num salão de beleza em Brasília,
com uma manicure negra. Exigiu que uma profissional mais “clarinha” a atendesse.
Oprah Winfrey (uma das personalidades mais rica da tv americana) foi
vítima de preconceito em Zurique, na Suíça. Uma vendedora de uma loja se negou
a lhe mostrar uma bolsa, alegando que a peça era muito cara. Dando a impressão
que a Oprah não teria condições para comprá-la, por ser negra.
Médicos cubanos foram vaiados por
médicos brancos brasileiros, em Fortaleza, por participar do programa Mais
Médico. Escola em Guarulhos exigiu que um aluno negro cortasse o cabelo Black Power.
Jovens homossexuais são vítimas de preconceitos na Paulista. Mulher gorda é
ofendida. Homem baixinho é ridicularizado.
Todos os dias, todas as horas, nesse
exato momento alguém está sendo alvo de preconceito em algum lugar do mundo.
Por ser gordo ou magro, alto ou baixo, analfabeto ou inteligente, hetero ou
homo, negro ou “branquelo”. Não importa! O que temos e o que somos, haverá
sempre alguém que se sentirá incomodado por isso.
Isso me leva a fazer duas constatações importantes:
primeiro que o preconceito é uma doença e como tal é necessário cuidados médicos. Segundo, que todos nós sofremos dessa
doença e portanto, somos preconceituosos.
Repito, todos nós, pessoas humanas,
somos preconceituosos com alguma classe de pessoas.
O que nos difere, uns dos outros, é a
intensidade da doença, o grau desse preconceito.
Há quem aceite naturalmente as relações
homossexuais, mas não tolere nordestinos. Tem os que são apaixonados pela
cultura africana, mas criticam ferozmente os religiosos protestantes. Existe os que odeiam gente e adora animais, os que preferem os índios, judeus e sulistas, mas odeiam europeus, americanos e nortistas.
Todos nós conhecemos alguém que deixa
transparecer seu preconceito sexual, preconceito social, preconceito religioso, preconceito em relação à mulher, preconceito a deficientes físicos, preconceito em relação à xenofobia.
O mais interessante quando se percebe um
ato de preconceito explícito, primeiro é o sentimento de compaixão que a maioria das pessoas tem com a vítima, e segundo
a criminalização do infrator. Criticamos os causadores de atos preconceituosos
como se nós, em algum momento de nossas vidas, também não cometemos algum ato
de preconceito, ainda que tenha sido tão insignificante que não tenhamos
percebido.
Novamente entra aqui a intensidade, o
grau de preconceito que temos sobre esse ou aquele grupo. Uma pessoa pode não concordar com
casamentos homossexuais, por exemplo, mas daí a atacar fisicamente casais gays,
há uma distância muito grande.
É justamente o grau da doença chamada preconceito: aceito completamente, não concordo mas aceito, não concordo e não aceito, não concordo e vou perseguir/agredir a todas as pessoas desse grupo.
Em suma, estamos mais propensos a sermos
mais tolerante/intolerante com aquele comportamento ou com aquele grupo.
Por outro lado, mais importante que se sensibilizar com
a vítima de preconceito é tratar o doente. Quanto maior for o grau de
preconceito que tivermos contra determinados grupos, maior é o mal que
poderemos causar aos outros e a nós
mesmos.
Eu já fui vítima de preconceito por ser
fumante (quando eu fumava), por ser nordestino, por ser pobre. Por pensar
diferente da grande maioria sou alvo de preconceito, quase todos os dias.
Por outro lado, meu
grau de preconceito contra alguns grupos, está sobre controle. Não corro o
risco de trazer desgosto ou causar mal a nenhuma pessoa por não concordar com suas escolhas
ou seu modo de ser.
E aqui vai uma autoavaliação do meu grau de preconceito: preciso ser mais tolerante com o pessoal da imprensa e com um determinado grupo político.
É isso aí!
Cuidem-se!
Nenhum comentário:
Postar um comentário