quinta-feira, 24 de julho de 2014

Um lindo brasileiro



O Brasil perdeu um dos seus mais notáveis filhos. O nordeste, um dos mais geniais. Pernambuco, uma de suas maiores expressão cultural. 

Ariano era uma verdadeira Cultura Viva.


O povo pernambucano compareceu à última aula do teimoso e extraordinário Ariano Suassuna. Um tipo de brasileiro difícil de se encontrar por aí. De boa conversa, apaixonado pelo Brasil, pelo nordeste e pelas coisas de Pernambuco. Homem de pensamento único. Não se importava de pensar diferente dos outros.

"O povo holandês é muito burro. O Recife fica abaixo do nível do mar. Os portugueses, inteligentemente, construíram Olinda no alto do morro. O imbecil do Maurício de Nassau construiu o Recife do lado do mangue."  

Esbarrei nele outro dia no saguão da Biblioteca Pública Estadual de Pernambuco.  Umas das poucas vezes, na vida, que tive o privilégio de vê-lo pessoalmente. Ali, diante dele, fiquei completamente sem saber como agir. Finalmente disse: bom dia, professor! E ele me respondeu com um largo sorriso.

Ariano é um desses brasileiros que a gente tem como se fosse da família. Que bom que ele deixou material farto para que os nossos filhos e netos possam conhecê-lo. Era, acima de tudo, o mais humilde da literatura nacional. Ria dele mesmo! Dizia conhecer um mentiroso por ser um deles.

"Quero pedir desculpas a vocês por causa da minha voz que é feia, baixa, fraca e rouca." 

Em fevereiro desse ano, assisti uma de suas Aulas Espetáculo, no Santa Isabel. Teatro onde hoje, do lado, está sendo velado o corpo do Professor Ariano.


O Palácio dos Campos das Princesas foi o local escolhido para as despedidas. Logo na porta de entrada estava o cantor Santana, ciceroneando os visitantes. Para os que não conhecem o Santana, é a maior expressão do forró, da atualidade. Após as mortes de Gonzagão e Dominguinhos, Santana passou a ser a voz estuante do forró nordestino. 


No caixão, as bandeiras do Brasil, de Pernambuco e do time do coração. Disse, na fila de acesso ao salão do Palácio: talvez o único defeito dele tenha sido torcer pelo Sport. Recebi o sorriso de vários rubros negros que estavam por perto. Ariano era completamente apaixonado pelo Leão da Praça da Bandeira. 

Na saída do velório do professor Ariano, após me despedir desse grande brasileiro que orgulha a todos que conhecem sua história e obra, sou surpreendido na porta de saída, por mais um grande artista da nossa terra: Abelardo da Hora.

 
Ariano Suassuna conseguiu fazer de seu velório, um encontro da cultura nordestina. Ele fez muitos amigos. Ele nem sabe quantos!

"Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas." (ariano suassuna)

 

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