Passados os primeiros sete dias da prisão do rebelde José
Dirceu, que enfrentou na ditadura o escárnio de um poder excludente, elitizado e
discricionário, cabe uma constatação a partir de fatos que ocorreram, nessa primeira semana de cárcere.
Só para se ter uma ideia de como essa prisão mexeu com a sociedade, centenas de milhares de eleitores,
que antes não tinham filiação partidária, tomaram a decisão de se filiar ao Partido dos
Trabalhadores.
A própria imprensa, pelo que parece, percebeu que não
vale a pena continuar divulgando informes sobre o líder petista. O jornalismo
da Globo, por exemplo, descobriu que, quanto mais propagar matérias sobre Dirceu, mais aumenta o número de simpatizantes e interessados em saber da
sua história de luta, a prisão na ditadura e os reais possíveis motivos da condenação atual.
Os “Corvos” grunhiram, após dois dias de cárcere, sobre
os “privilégios” que, segundo os “formadores de opinião” da Grande Imprensa, estaria
sendo dado aos “políticos presos”.
Sobre isso é necessário esclarecer um
detalhe fundamental: Dirceu não é um preso comum!
E isso não se deve por ele
ser “melhor” do que os demais presos ou mereça privilégios. A razão é única:
José Dirceu formou-se em Direito, se tornou líder do movimento estudantil, foi
preso pela ditadura militar, foi banido do país, viveu clandestinamente no
país, participou da fundação do PT, foi deputado estadual,
deputado federal, foi Ministro da Casa Civil, entre outras coisas.
Dá para imaginar quantos inimigos,
Dirceu contabilizou ao longo desses mais de quarenta e cinco anos de lutas.
Se fôssemos relacionar apenas
os nomes das pessoas que odeiam o Dirceu, na imprensa brasileira, teríamos que
começar agora e só terminar amanhã, pela manhã.
É claro que isso é um exagero!
Mas, que muita gente pagaria para vê-lo morto?! Isso sim, não é um exagero.
O que se sabe é que Mandela precisou de vinte sete anos na prisão para mudar
a impressão que os sul-africanos, tinham a respeito dele. É verdade que a grande
maioria dos brancos, acreditava que ele era um terrorista e a grande
maioria dos negros acreditava que ele era um guerreiro. Mas, em ambas as classes sociais,
havia os que concordavam com o cárcere de Mandela. Muitos negros, claro, impulsionados,
manipulados e alienados pela imprensa sul-africana, na qual os barões eram em
sua maioria brancos, aceitavam numa boa a prisão do Mandela.
Mandela não teve a tecnologia
da comunicação, que esclarece os fatos, que o Dirceu tem hoje. A internet
é a ferramenta que tem sido o meio de suprimento da informação que o povo
brasileiro busca. Por isso, esse processo pós-prisão de Dirceu, que implica em duvidar que ele seja culpado, está só no começo.
A cada dia que passa, mais e mais
pessoas tem feito sua própria análise dos fatos e percebido que a justiça
brasileira errou feio ao condená-lo. Por mais que ministros do STF, políticos
de oposição e “pensadores” da Grande Imprensa, insistam em dizer que foi justa a
condenação, vai ficando claro que não houve nenhuma prova material contra ele.
Só se o Dirceu tivesse
poderes sobrenaturais, com capacidade de se comunicar com os demais da “quadrilha”
por pensamento ou ser onipresente, onisciente e onipotente. Porque não há uma
gravação telefônica, uma fita de vídeo, um bilhete assinado por ele, não há nada! O que há
é a acusação de um escroque, um malfadado que o acusa de ser o chefe da
quadrilha.
O cinismo do STF é tanto, que
ele pode ser representado pelo pronunciamento da Ministra Rosa Weber, quando em
seu depoimento condenou Dirceu:
“Não tenho prova cabal contra Dirceu – mas
vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”
Essa semana a Comissão da
Verdade Don Helder Câmara, em Pernambuco, trouxe um relato sobre os presos
políticos de 1964, que nos faz refletir sobre a condenação de Dirceu, hoje. Por meio
do depoimento de alguns torturados políticos, entre eles o artista plástico
Abelardo da Hora, se comprovou que a repressão em Pernambuco, no período da
ditadura, não se deu apenas por causa dos grupos que lutaram com o uso de
armas.
Antes mesmo do início da luta armada, militantes de esquerda sofrera nos
porões da ditadura por causa de suas ideias.
Abelardo da Hora, membro do
PCB, chegou a ter uma sentença de morte contra ele na época da repressão,
porque o sistema não concordava com o que ele dizia.
Pelo que parece, a repressão
aos que militam no campo das ideias, continua bem viva nos tempos de hoje. Essa ditadura em plena Democracia, ainda vai transformar o Dirceu em Mártir.
Esperem e vejam!
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