Há cerca de três anos sofri um golpe, ao saber sobre um caso
de câncer na minha família. Uma de minhas irmãs tomou conhecimento de que
deveria retirar um dos seios, devido a um nódulo maligno.
Após cinquenta e cinco anos, um filho, netos, vivendo uma vida
aparentemente tranquila, desprovida de qualquer problema de saúde física, uma
das pessoas mais chata, vaidosa e altiva, que conheço... Se mostrou diante de
mim angustiada, desesperada e fora de si, devido a doença.
O diagnóstico do câncer no seio direito, foi devastador...
Pra ela parecia que o mundo havia acabado. Não tinha nada
que mudasse o sentimento de “tudo acabou”. Ninguém podia ajuda-la.
Ela entrou
em desespero total! bastava olhar pra ela que se percebia. Por mais que ela tentasse esconder...
Nada que falacemos aliviava suas dores. Com a alma abatida
ela sequer ouvia o que falávamos.
Os primeiros dias foram difíceis, mas, os
outros dias foram piores.
Alguém falou pra ela que talvez os exames poderia ter dado
um resultado errado.
Aconselhamos a refazer os
exames. Sabíamos que as chances eram muitos remotas, mas, naquele
momento a dúvida surgiu como um bálsamo.
Ela não dormia, comia pouco, conversa menos ainda.
A ideia de perder uma parte de seu corpo, ficar “mutilada”, feri-a
lhe a mente.
Foram dias difíceis.
O resultado saiu. E como esperado atestou o que dizia o
primeiro exame. Mais desespero... Mais sofrimento.
Acho que cada pessoa encara de uma forma, essas coisas.
Minha irmã mudava de sentimento conforme o momento. As vezes
enxergávamos um leve sorriso no seu rosto, noutros um silencio, uma distancia da realidade,
um choro escondido...
Ela já estava sendo assistida, desde que soube do tumor, por
um psicólogo. Mas, nesses casos, o pior é quando se está só. Por mais que familiares
e amigos tentem preencher espaços, sempre haverá momentos de solidão, de
reflexão (negativa), de perguntas sem respostas.
Por que eu? Por que comigo?
Os dias que se sucederam foram muito difíceis pra ela e para
os que compartilharam a sua dor.
Os dias eram longos , mas, a data da cirurgia foi se
aproximando. Cada vez mais, pessoas se mostravam solidárias. Exemplos de casos
bem sucedidos foram surgindo aos montes (ainda bem!).
Uma senhora que passara
pelo mesmo problema, inclusive retirando os dois seios, lhe mostrou o resultado
final, após passar por todo processo, desde o recebimento do laudo até as
plásticas.
Ao mostrar os seios a minha irmã, essa senhora trouxe de
volta a esperança em sua vida.
A partir daí ela passou a ter mais coragem e vontade de enfrentar
tudo aquilo de cabeça erguida.
Vez ou outra surgia o medo... Mas, ele não tomava conta de
seus pensamentos como antes.
Naqueles momentos de dores e incertezas, ela se aproximou
mais de Deus. O que não é nenhuma novidade...
A operação ocorreu e foi bem sucedida.
Começaram, após alguns dias, as sessões de quimioterapia e
radioterapia. Com elas, vieram as reações,
a queda de cabelo, o uso de perucas, o uso do sutiã de prótese.
Qualquer um que se colocar no lugar dela, mesmo que seja por
um minuto, ainda que não faça esforço algum pra sentir... Ainda assim, perceberá
uma fração da dor, em tudo isso.
Hoje, após todo processo, minha irmã é um exemplo para
todos e principalmente para todas as mulheres que estão vivendo esse tormento.
Após terminada as sessões, concluída as plásticas devidas, ela
está mais bonita, os seios mais firmes, porque precisaram fazer ajustes no
esquerdo, o cabelo está mais sedoso e bonito, reconquistou o prazer de viver, a alegria voltou a sua face, está
ainda mais efervescente que antes.
A única coisa que não mudou foi a chatice, que aliás, só não
aumentou por falta de espaço.
É difícil, eu sei.
Mas, no final a alegria é melhor e o sorriso é diferente.
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