O que mais critiquei na minha adolescência foi o saudosismo
dos mais velhos daquela época. E hoje me pego com saudades das minhas filhas
ainda criança.
Lembro-me de suas caras no primeiro dia em que as vi na
maternidade, logo depois de nascidas. Há poucos minutos de suas vindas ao mundo.
Enroladas no lençol do hospital, chupando o dedo e chorando
ao mesmo tempo. Lembro das carinhas sujas ainda. Do medo que tive de
machucá-las ao tê-las no colo. Meio sem jeito, quase que executando ao mesmo tempo, a mais prazerosa
tarefa e a mais difícil. Sentia como se elas pudessem cair dos meus braços a
qualquer momento.
Aquele ser molengo sem estrutura óssea. “Enfermeira, por
favor! É melhor deixá-la com a mãe”.
As primeiras mamadeiras, as primeiras noites sem dormir. A
cadeira de balanço, tão amiga, nas horas mais difíceis. Ter que acordar às duas
da manhã pra fazer o leite e imaginar que conseguiria, enfim amamentadas, ter
algumas horas de sossego.
Sossego? Puro engano!
Depois de tomar o leite, ativavam o "botão" brincar!
Alguém já imaginou ter que às três da matina brincar com gugu gaga? Cantar “boi, boi, boi...” E receber em
troca uma gargalhada do seu filho de seis meses de nascido?
Quem disse que tomar leite dá sono? Dá muita energia, perda
de sono, vontade de brincar e gargalhar.
Decidi, ainda na barriga da mãe, que não iríamos comprar chupeta pra elas. Sempre achei que [a chupeta] seria a primeira e mais danosa mentira que os pais dão a seus filhos. Pagamos um preço por isso, é certo. Mas, não as enganamos toda vez em que elas chorassem, colocando a chupeta em sua boca.
Sobre o bem de criar filhos sem chupeta, eu digo: valeu muito a pena.
Entre choros, noites de sono e gargalhadas, elas cresciam e se desenvolviam dia a dia.
Com o passar de alguns meses, elas perceberam que a casa
tinha outros compartimentos.
Engatinhando, elas descobriram que chegariam mais longe. Era chegada a fase do quebra-quebra, do “tira tudo das partes inferiores da estante”; tudo colocado no alto pra o bebê não pegar.
Fechar
o acesso delas pra cozinha. Não deixar as portas abertas dos quartos. Limitar o
espaço delas na sala e, tão somente, na sala.
Incrível! Um ser indefeso e tão perigoso.
Se engatinhando elas
já criavam tantas desordens e preocupação, que dizer quando começarem a
andar.
São com os primeiros passos que elas perceberam que a casa
era muito, mais muito pequena pra elas. Descobriram que havia ruas, avenidas,
gente, e mais gente, e mais gente... “que legal!” pensaram elas.
Por que criança gosta tanto da rua?
Eu não lembro que eu era assim quando tinha dois ou três
anos.
Mas, uma coisa é certa, nada referente aos filhos, se compara as primeiras palavras
ditas por eles. Quando ouvir pela primeira vez, elas chamarem papai, foi o som mais lindo que já ouvi na vida.
Mas, nem tudo nos nossos filhos bebês, é... assim...
lindo!
Quando começaram a andar, entraram também na fase das
palavras impertinentes. A primeira foi a fase do NÃO. Tudo que falávamos
ouvíamos sempre um NÃO.
Depois da fase NÃO veio a do POR QUE.
Você imagina ter que encontrar resposta pra tudo que você
falar? E é um interrogatório que NÂO tem fim. Terrível! Super inconveniente.
Aí vem a fase do EU SABO.
Na verdade deveria ser: EU SEI,
mas elas têm, desde muito cedo, uma enorme capacidade de irritar a mim e a mãe.
Sabe aquela pessoa com três anos de idade achando que tudo
sabe. Um cotoco de gente no meio da sala, achando que sabe ligar a TV, que sabe
por o DVD pra tocar, que sabe amarrar o sapato, que sabe cortar a carne no
prato...
“Deixe que EU SABO!"
"EU SABO a hora que vou dormi"
Dói só em lembrar.
Então chega a idade de ir pra escola. E a gente se surpreende
em ver que elas foram mais corajosas do que, eu. O primeiro dia de aula parecia
que elas já estavam esperando, ansiosamente, por aquele momento. A adaptação
foi extraordinária. Eu precisei de uns seis meses pra me sentir “marromeno” na
sala de aula das minhas lamentações.
E a expectativa delas quanto quem iria buscá-las na escola(?!). Sei não, viu, mas os pais sofrem.
Quando era
eu, tinha que vim o percurso todo explicando as razões porque a mãe não pode ir
buscá-las. Elas vinham de cara feia, resmungando pelo caminho.
Pai, por acaso, não sabe
ir buscar filhos na escola?
Quando era a mãe que as buscavam, acontecia o contrário.
Por
que pai não veio? Perguntavam elas a mãe.
Filhos adoram “tirar onda” com os país.
Por tudo que foi vivido, as noites de sono, as várias fases que atravessamos, os primeiros passos, as primeiras palavras, a iniciação a vida escolar, as tarefas, as broncas, as tossis e febres, as idas ao médico, tudo, tudo e tudo. Como seria bom se elas não tivessem crescido.
Mas, lá no nosso âmago, pra nós elas sempre serão crianças.
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