Ter Poder é prejudicial para muitos homens.
Não é toda pessoa que consegue administrar o Poder exercido pela função que
desempenha. Muitos se sentem verdadeiros deuses! Quando esse Poder é
estabelecido sobre outras pessoas, então, aí é que o bicho pega!
O Poder de polícia tem levado lideranças a cometer atos
inimagináveis. Aos policiais é dado instrução de sair em busca do delituoso, prendê-lo,
encaminhá-lo a uma delegacia, ouvi-lo e apresentá-lo a um profissional de
justiça, o qual determinará o procedimento legal.
Nenhum artigo do código penal ou processual, nenhum parágrafo
do regimento interno, do código de ética, de práticas de abordagem policiais,
manuais de procedimentos, vem dizendo que cabe aos profissionais de segurança
pública prender e espancar, prender e torturar ou prender, matar e desaparecer com
o corpo.
A sensação de Poder, de não ser pego nunca, de está acima da
lei, de imaginar-se intocável, essa certeza de que o Estado sempre vai está do
seu lado, faça o que você fizer, que você nunca vai ser pego, é isso que destrói os homens.
Um único homem, o Amarildo, e mais de vinte e cinco
policiais encrencados com sua prisão, sua tortura, sua morte e o sumiço de seu
corpo.
Até aquele que não deveria permitir essa atrocidade, o comandante dos
demais policiais, o que deveria ter a cabeça mais centralizada, é o principal responsável por toda essa monstruosidade.
O Estado, que na maioria das vezes se cala, se esconde, se
acovarda, dessa vez pune não só os que diretamente agiram contra o “delituoso”,
mas, também contra os que se omitiram.
O Estado assim, cumpre o seu papel de Estado, de principal pessoa jurídica guardiã da lei.
Imaginemos se esses policiais tivessem realizado o
procedimento básico, aprendido na Academia de Polícia. Se eles tivessem levado
o Amarildo para delegacia.
Não importa às razões, os motivos, a leitura (certa ou
errada) que os policiais fizeram sobre o comportamento do Amarildo. Porque
afinal de contas, cabe a justiça julgar os atos daqueles que são levados à prisão.
Aos policiais [civis ou militares] só cabe, sair em diligencias, prender e encaminhar o preso a delegacia, ouvi-lo, comunicar a justiça sobre o ato de infração cometido e
encaminhá-lo ao presídio ou multá-lo, conforme o caso.
Quando policiais, imbuídos de um poder inimaginável, decidem
por conta própria ser polícia, delegado, juiz, e sentenciar os “culpados” (na
sua visão) em pena de morte, aí é a hora do Estado intervir.
Nenhuma pessoa tem poder sobre outra, além do Poder
estabelecido pela lei. É ela, a lei, quem disciplina os procedimentos que cada
um de nós devemos respeitar, no trato com o outro.
E diferente do que muitos
acreditam, mas, a grande maioria dos profissionais de polícia seguem essa regra. Cumprem rigidamente com os procedimentos aprendidos na Academia.
Não fosse
assim, a sociedade brasileira estaria em situação de caos.
São poucos, os
policiais que não sabem lidar com o Poder que eles pensam que têm. Nessa
questão, o Estado é o principal culpado. Manter nos quadros da polícia,
profissionais despreparados é um grande perigo.
Imagino o que está passando pela cabeça desses vinte e
tantos policiais envolvidos no caso Amarildo:
Que merda que eu fiz!
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